Casos, acasos, pensamentos e devaneios

...somos parte de um todo cheio de momentos inusitados que nos levam a refletir e concluir que a vida pode sim ser mais simples, que pode sim ser vivida e, a parte disso, podemos sim fazer a diferença...



quinta-feira, 17 de novembro de 2011

MORANDO SÓ


Certa vez disseram-me que é preciso amar muito a si próprio para morar só. O argumento? Porque só, temos a obrigação de conviver mais conosco, com defeitos, pensamentos, medos, angústias, alegrias, prazeres e desejos. Só, convive-se mais com o “EU”. A necessidade ou a existência de um outro, seja este outro um amigo, um amor ou a família, quebra um pouco esse contato mais intenso conosco. Esta semana, li em algum lugar que “tudo na vida tem um preço, e ter meu espaço me custa um vazio enorme”. Não sei a autoria da frase.
Eu moro só. E gosto muito! Não consigo, por ora, me imaginar dividindo apartamento ou “casado”, até porque estas experiências eu já tive e definitivamente, não sinto saudades! Essa “solidão”, a qual alguns dão o nome de “prisão”, eu a nomeio “liberdade”. Liberdade para não ter regras de outro. Só as minhas! Liberdade para não lavar os pratos logo após o jantar, ou para andar nú pela casa. Escutar músicas, que me agradam, no volume alto sem atrapalhar ninguém. Liberdade para ter silêncio. Liberdade para ser “EU” do jeito que eu quiser. Liberdade para deixar a faxina para a próxima semana porque, mais importante que deixar a casa brilhando, é ver os filmes e festas imperdíveis na sexta, no sábado e no domingo.
Gosto de ser responsável por tudo naquele microcosmos que é a minha casa. Faltou água mineral? Quem é o culpado? Eu! E quem foi que esqueceu de comprar o iogurte, o Nescau e o Talento que tanto gosto? Eu! E até achei graça quando não pude cozinhar o que queria tarde da noite porque não tinha fósforos. É… tinha esquecido isso também.
Não que isso não fosse acontecer se eu morasse com outra pessoa. Mas é que prefiro, agora, não ter obrigações caseiras com mais ninguém. Talvez eu mude com o tempo. Ou talvez eu continue assim… o que vai ser um problema, pois gostaria de experimentar mais uma vez a vida a dois, mas sob tetos diferentes! Quem toparia isso? Difícil... Mas sei lá se isso num seria possível!
Mas nada na vida é tão estanque assim e tenho, sim, os momentos em que a solidão me aprisiona. Os momentos que quero, muito, a presença de mais alguém. Para me fazer rir. Para falar besteiras. Para escutar as minhas. Para discutir assuntos sérios. Ou para assistir a um filme. Ou tomar um suco (ou uma cervejinha de leve).
E alguns amigos me dizem que jamais terão coragem de morar sozinhos. Não é questão de coragem. É, suponho, questão de perfil. De como você lida com você sem a presença do outro. Não há certo ou errado. Há o que é melhor ou não para mim (ou para você).
Durante a semana, quase não dá tempo de sentir isso. É tanta coisa pra fazer! Quando se elimina o tempo de trabalho e preparativos para chegar e sair dele, sobra-me pouco tempo livre de segunda a sexta até mesmo pra mim! Minha solidão não tem, mesmo, espaço para aparecer.
Nos fins de semana, as coisas podem ser um tanto diferentes. Há espaço-tempo suficiente para sentimentos aflorarem. Mas, como já disse, não tenho problemas com a solidão e já passei fins de semana inteiros trancafiado em casa. Entre comidinhas, filmes, livros, músicas, internet e minha cama que é gostosa demais!
Mas também é uma percepção muito rasa achar que morar só significa estar só. Concordo, sim, que são maiores as chances de ficar sozinho, mas se se tem amigos ou familiares, pode-se fazer que estes outros estejam presentes. Restaria, então, a solidão decorrida da falta de um amor, que não é resolvida ao se dividir apartamento.
Sinceramente, acho que bom mesmo é experimentar um pouco de tudo. Tudo tem seu lugar e seu momento. Mas nos meus fins de semana, há um bom tempo, tenho estado muito bem acompanhado de amigos e meu trabalho. E está bom demais assim.